...desde 1880

05/08/2008

Uma "reportagem" em forma de livro...

..foi escrita por um dos Orfeonistas que viveu a Digressão a África no verão de 1949 - Dr. António de Almeida Santos.

Já lá vão quase 60 anos!
O Orfeon era masculino, a viagem foi de barco e durou 3 meses,...
o espírito Orfeónico, o que ainda hoje existe!

«(...) A propósito, é oportuno recordar uma história que nos foi relatada com graça nos escritórios da Companhia Colonial de Navegação. Como sempre, a presença da Academia de Coimbra lançou o pânico nos estremosos corações maternais.
O caso passou-se antes da nossa chegada.
Uma respeitável senhora, mãe carinhosa duma donzela igualmente respeitável, recém-casada por procuração com certo cavalheiro colonial e que preparava alvoraçada a sua viagem no "João Belo", que a transportaria aos braços amados - também por procuração das maternais considerações económicas - entrou nos escritórios da Companhia com um ar de irremediável fatalidade. Ao saber que no mesmo barco viajava o Orfeão Académico, o coração da pobre senhora perdeu o compasso numa angustiosa aflição. Talvez que ela tivesse, perdida na sombra do seu passado distante, uma história de amor que não contou ao marido. E a pobre senhora anteviu uma autêntica abordagem de piratas do amor ao coração naturalmente sugestionável da pobre menina. Daí aquela corrida ao Escritório a pedir por todos os santos que lhe arranjassem passagem noutro barco e salvassem a bela noiva do ultraje de uma viagem em companhia de tão perigosa "cambada". E a Companhia, sempre solicita, salvou "in extremis" a honra da bela dama, concedendo-lhe passagem no Colonial.
Deviam ser bem arrojados esses estudantes de mil e novecentos...
(...)» (in pág 31)

«(...)Uma a uma, vão aflorando as caras novas dos passageiros que viajam connosco. Passam agora duas morenas que merecem um pouco de circunspecção. Já se sabe que são casadas por procuração e vão ao encontro dos maridos (respectivos). (...) Há muitas cranças a bordo. Consequências: um barulho dos diabos e amas, criadas, damas de companhia... Ora se a algazarra se dispensa, a presença das ditas criadas, amas e damas, reveste um significado especial. Lá vêm elas muito metidas consigo, bem precavidas por um aviso a tempo: nada de confiança a esses estudantes! (...)
Nos corredores, onde as criadas passeiam a garotada, nota-se uma particular ternura pelas crianças. Não há dúvida de que a viagem está produzindo uma espécie de puerilização colectiva dos espíritos masculinos e revelando ao memso tempo verdadeiras inclinações criadoras. (...)
Mas... há coisas bem incompreensíveis: por que será que ninguém faz carinhos ao Joãozinho, que tem uma criada feia? (...)» (in pág 44 a 46)

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